Depois da introspeção quase obrigatória...Bolas!Já tenho uma filha com 30 anos, e isso não é tudo... Também tenho uma com 25 e mais uma com 20 UFAAAA.... Faz-me pensar à séria em tanta coisa... Algumas fantásticas e inenarráveis, outras profundamente dolorosas que puxam uma lágrima marota (a idade acelera as lágrimas está visto!) Mas acima de tudo deixo que um orgulho desmedido me tome e sinto-me quase a matriarca sábia do clã, aquela contadora de histórias que já viveu imennnnso, e não que seja algo mau, antes pelo contrário - é maravilhoso! Penso também e peço por muitos mais que venham e que eu possa continuar a pejar as memórias das minhas herdeiras de histórias, e de sensações. Principalmente sensações que perdurem, e memórias que não se deixem esvair por um tempo que vivemos apressadamente. 30 anos voaram, voaram a uma velocidade estonteante mas, por outro lado marcaram a ferro e fogo os corações e as almas de quem comigo faz esta jornada de vida. Ela fez 30 anos e eu parece que cresci eheheh - não que me sinta uma velha! Assinala-se um tempo diferente, assumi os meus cabelos brancos (acho que também eles contam uma história!), olho para elas e não me sinto "velha" (velhos são os trapos) até visto calças de ganga todas rotas (acho que para não deixar que a "velhice" se instale sorrateiramente), sinto-me isso sim, (e desculpem se parece falta de modéstia - quem me conhece verdadeiramente sabe que não!) mais sábia e muito mais verdadeira comigo mesma e com os outros. Perdi medos, perdi inseguranças, sou mãe de uma filha com 30 anos e dona do meu nariz... Só faço o que me apetece e dá prazer!E, sem dúvida que o que me dá mais prazer são estas coisas do coração que vivencio intensamente! Por outro lado se deixar que os meus olhos façam uma rápida viagem no tempo, vejo de soslaio os meus 30 anos que foram absolutamente fantásticos e dignos de constarem na minha história de vida com destaque. E, não posso deixar de agradecer quase à laia de oração silenciosa, ao pai destas mulheres que alegram a minha vida! Sem ele nada destas coisas eu sentiria! Mil beijos a quem me acompanha e três especiais às fadas da minha vida!
Por mais que a vida me castigue, por vezes de formas disfarçadas e outras com assombrosa crueldade, não abandono de nenhuma forma aquele princípio básico que sempre me tem regido – correr atrás dos sonhos!
E mesmo que eles pareçam absurdos, descabidos, difíceis de almejar, não permito que a minha mente os bloqueie. Sigo num caminho de obstinada convicção de que, apesar de tudo, de tudo ou quase, serei capaz. E, ainda que frequentemente me assalte um medo de acordar de manhã na incógnita do que o dia me trará, faço diariamente uma busca em mim mesma, da força que me move e me tem acompanhado sempre. E tomada de um incerto entusiasmo sigo a direito, sem atalhos que me perturbem, sem incertezas, somente acreditando em mim. Faço de Álvaro de Campos a inspiração que me leva e verifico que, realmente, tenho em mim todos os sonhos do mundo… Corro atrás deles numa canseira que por vezes me esgota mas não me leva a parar… Corro atrás deles com a sensação de estar solta no mundo, desgarrada do que me puxa para baixo e mantenho-me à tona… E, assim, por vezes vivo no caos! Deixo-me ir vagueando e saltitando de sonho em sonho… Acompanhada de lágrimas de frustração e fracasso, tantas vezes suplantadas por momentos de verdadeira felicidade quando os sinto na minha mira… E é essa a essência do melhor de mim, aquela força de correr atrás e tentar ser feliz comigo mesmo ainda que nem sempre o consiga. Os sonhos existem, são uma realidade! Alimentam-me a alma, transformam-me numa pessoa melhor, acordam-me o coração para a partilha! Éramos umas crianças, brincávamos, saltávamos e desafiávamos a vida com saudável indiferença aos laços que um dia unem as pessoas para sempre; gozávamos a vida com a urgência da ingenuidade e a pressa de crescer.
E nessa azáfama de viver marcamos e deixamo-nos marcar - uma marca indelével e tênue no pensamento, porém gigantesca no universo dos sentidos, mesmo sem darmos por isso. Quarenta anos passam a correr, tão depressa que nem a areia de uma ampulheta para se livrar da sensação que não deseja, do desmembramento do grão correndo assim atrás dele. E, em quarenta anos tanto acontece; milagres de vida se dão, tanta mágoa e dor que se vive; obstáculos que se ultrapassam; gargalhadas que se soltam ao mundo e lágrimas que se não contêm; um sem fim de vida que se desenrola lentamente! Quarenta anos em que os corações se apartam e a mente como que se despeja desalojando sensações, camuflado-as, levando a pensar que são fruto de uma imaginação puramente infantil. Porém a marca foi deixada a ferro e ali se mantém resguardada do alheio e talvez até de nós mesmos. De repente um dia, vá-se lá saber porquê, dá-se um abraço e sente-se, efectivamente os corações tocarem-se, os mesmos que haviam estado apartados! Os lábios tocam a pele num beijo cândido e a magia faz-se. A marca que estava adormecida como que num passe de mágica, transforma um momento banal num inesquecível e destapa a urgência da sensação, do afecto e da ternura que, afinal sempre morou em nós! Deixo contigo este meu sentir que me inundou numa noite de insônia em que visitei os teus sonhos. No escuro da noite estendo todas as minhas emoções, recordações e brilho! No seu silêncio deixo a mente tocar ao de leve, muito ao de leve, uma vontade renascida de sentir-me flutuar, pairar e simplesmente abandonar-me no som mágico de estrelas que se tocam, na imensidão da ternura de um olhar e de um toque! Na memória da pele, no voltar dos tempos.
Deixo-me balouçar no movimento da vida, no vento forte que me sacode capaz de abalar os pilares aos quais me seguro... Espero furações de emoções que me façam pairar... estrelas brilhantes que me encantem e... viver como se amanhã não houvesse... Faço um caminho pelo labirinto das dores e finalmente encontro paz! O sol aquece-me a alma e ilumina-me os pensamentos, fazendo-me acreditar que os dias que se avizinham serão melhores! Vivo um após o outro intensamente mas sem nada esperar!O que será que o amanhã me reserva?? Queria levar a vida com um olhar distante para que nada me tocasse no coração, a não ser a brisa doce do vento, a água gelada do mar ou os raios do sol abrasador de verão... Queria ter o pensamento desprendido,um olhar de estranha distância e magia na alma... Madrugada! Tudo dorme. Ouve-se aqui e ali um ruído de vida pouco nítido.
Os meus pensamentos, esses fazem um barulho ensurdecedor dentro de mim, atropelam-se uns aos outros na ânsia de sair para o papel. Penso em ti, no quente do teu corpo enlaçado em mim, no toque dos teus lábios macios quando roçam nos meus desejando uma boa noite. Penso em ti quando estás sentado a trabalhar e eu docemente invado o teu espaço, abraçando-te com força e sorvendo com urgência desmedida o teu cheiro, que quero permaneça na minha memória dos sentidos. Penso nas carícias trocadas no correr rápido dos minutos, que quero agarrar e como num passe de mágica escapam-se-me... Madrugada!Tudo dorme menos os meus pensamentos... Penso no que nos afasta e no que nos une e, sinto saudade... Uma saudade boa não do que não temos, mas sim do que existe entre nós e é palpável, e que paira suave rondando a alma. Fecho os olhos para sentir com mais realidade! Agarras-me com força e vejo ternura no teu olhar disfarçado, naquele olhar que afastas para que eu não leia nada nas entrelinhas do que não dizes... E, sem pedir autorização lês o meu interior, provocando em mim a sensação de ser um livro aberto sem nada a esconder. Uma sensação desconcertante mas boa! E, no meio do silêncio em que vivo, no meio da noite escura que parece ter parado no tempo, vejo com tanta clareza o que possuo, o que gostaria de ter e o quanto amo aquilo que a vida me dá. E, o amor que tenho por ti esse mantém-se como um afago que me ofereço nos momentos mais desnorteados. Num reino que é só meu, esperaria a tua chegada e cobrir-te-ia com um manto vermelho, cor do sangue que me ferve nas veias quando os olhos posam em ti.
Fascinante sensação essa! Coroar-te-ia com pétalas cheirosas e macias, retiradas do amor sentido no âmago do meu ser. E depois de ficar em contemplação ao objecto do meu amor, da minha paixão louca e incontrolável, sentava-te num trono robusto, pronto a tudo aceitar e tudo desejar! Num reino encantado em que somos reis, no nosso canto sossegado, onde a única batalha é por desejo de paixão e loucura, seríamos felizes. E, somos realmente felizes por mais pequenos que sejam esses momentos encantados... Hoje, em dia de Reis, fizeste-me sentir a tua rainha, na maciez da voz doce com que me falas sempre. Serás meu rei por quanto tempo mais? E eu? Serei a tua rainha por quanto mais tempo? Para sempre que é esse o nosso tempo! Cinco da manhã. Os olhos abrem-se inundados de um silêncio aterrador. Um frio a percorrer a espinha e os sonhos tomados de sombras escuras e emoções tão fortes; capazes de fazer escorrer das mãos um suor frio e viscoso.
Lá fora a felicidade do chilrear dos pássaros que parecem adorar o silêncio e o escuro da madrugada. Saltam livre e alegremente de galho em galho nas árvores totalmente despidas. Bebo um copo de leite, na esperança que o líquido branco e morno me aqueça a alma o suficiente, para tirar de mim esta sensação dura e malévola de um pesadelo horrendo e com cheiro a morte que não quero que se entranhe em mim. No peito trago cravado um punhal afiado, que me dificulta a respiração e carrega consigo uma dor que me atravessa o externo imobilizando-me os movimentos, impedindo-me de respirar normalmente. Quero gritar! Gritar até sentir que existe vida neste silêncio aterrador! Gritar para expulsar de mim esta dor que sinto, de algo que só aconteceu nos meus sonhos mas que é tão verdadeira! Levanto-me a custo. Uma réstia de sono habita este meu corpo que parece não ter chegado a descansar.
Ponho café a fazer e deixo que o aroma doce se impregne na velha cozinha. Lá fora a noite despede-se lentamente e as árvores dançam ao ritmo da brisa que passa, com toda a certeza gelada. A vida pulsa nas pessoas que já correm de um lado para o outro atarefadas e nos carros que circulam com pressa desmedida. Os poucos cafés que vejo desta minha janela mágica, já acenderam as luzes e estão preparados para servir os primeiros clientes do dia. Lá, como aqui, também o aroma de café impera. E a noite continua a sua lenta despedida - cada vez está mais claro! Deste canto onde me encontro placidamente sentada, sem vontade de me mexer, assisto ao nascer de mais um dia. Também aqui, dentro destas quatro paredes que são o meu mundo, o ar que se respira é gelado e entranha-se nas narinas quentes e gela os ossos. O movimento aumenta, o ritmo acelera-se e eu nem ouso abrir a janela... Uma tentativa de prolongar um momento de solidão e sossego onde me sinto tão bem. Mesmo assim, o tempo corre impiedoso, seguindo a galope nos minutos e segundos que vão passando. Lá fora já é finalmente dia, pouco passa das sete horas da manhã e eu hoje fui acordando aos poucos com ele, imbuída de uma preguiça que me agarra com as suas mãos fortes e não me deixa sair de onde estou. Abeiro-me do parapeito da janela para sentir o cheiro do novo dia e acelerar as minhas sensações. As luzes já se apagaram e o frio é cortante de tal forma que rapidamente me recolho ao meu casulo. Assistir ao dia nascer desta plateia onde me encontro, é como assistir a uma peça de teatro onde cada um que vejo lá fora desempenha um papel. Eles são os actores - eu a plateia! Levanto-me para aplaudir de pé mais um dia que nasce e agradeço por poder assistir. Viver é fantástico! A sombra do teu corpo alto e imponente, orlada pela luz que jorra da fonte, fascina-me!
Faz-me sentir que estou onde devo estar e a apreciar até momentos como este meio escondida, meio despercebida. A noite já caiu e tu afastas-te num pequeno passeio que fazes no jardim recortado e cheio de recantos. Vejo-te ao longe com o coração pleno da paixão que move os meus dias. É mais um sentido que ofereço a esta vida que ainda tenho para viver. Grata, tiro os olhos desta escrita quase rudimentar, apressada, e em segredo para te procurar na imensidão do jardim que, como se fosse um manto verde que se espraia, também me oferece uma perspectiva fabulosa da alma que vive em mim e vibra tão somente ao te olhar de longe. Aproximas-te com o teu passo largo e decidido. Tu não vês, mas de ti emana uma luz. A luz que um dia me conquistou, que eu consegui calar dentro de mim e hoje regressa deixando-me rendida ao que não posso mudar, ao que não quero mudar e ao que possuo ao teu lado. Sou chegada ao ponto de não retorno, como quem aporta num porto seguro sem amarras apesar de tudo. Cada vez mais próximo, a tua figura orlada de uma luz que não divido com ninguém, só eu a vejo, só eu a sinto tomar-me em revoadas de arrepios que me transformam em pura paixão escondo rapidamente estas palavras, calo-as por instantes... Que estranho sentir este meu... |
Telma Correia FariaBrincar com as palavras, atá-las umas às outras e deixar o coração falar! Arquivo
February 2015
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